sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

McFavela muda de nome em Heliópolis, mas reaparece na zona leste de SP

Esse lanche demora pra p...", reclama um serralheiro sentado no McFavela. Na mesa ao lado da lanchonete de São Miguel Paulista (zona leste de São Paulo), o entregador de gás Eduardo Lepschis elogia a atração da casa, o MacLarica (R$ 5): "Ele mata a fome. Pra quem tá na correria na comunidade, dá para trabalhar o dia todo."

O MCDONALD´S NÃO AMOU TUDO ISSO


A rede tem duas unidades. Começou com um quiosque no bairro dos Pimentas (Guarulhos) e se expandiu para essa unidade paulistana encravada na favela Pantanal e à beira do córrego Jacu. "Você não quer entrar de sócio meu para a gente abrir uma filial no Itaim Paulista?", se entusiasma o dono do estabelecimento, propondo que a reportagem do UOL Notícias abra uma franquia.

O empreendedor Carlos não dá o sobrenome porque sabe que vem processo da multinacional McDonald´s por aí. Também se precaveu de qualquer mal-entendido entre o público consumidor com um grafite político na parede lateral da loja: "O McFavela é contra a burguesia que menospreza nós que somos da periferia."

"O nome é uma crítica ao McDonald´s, não à comunidade. Escrevi essa frase para o pessoal daqui não achar que eu estou tirando um sarro", se explica o empresário, que planeja mais uma ação de marketing sarcástica. "Vou fazer o dia do McLanche Infeliz, distribuindo brindes para quem comprar um lanche." Outro exemplo é o McPicanha, que custa R$ 7,80, e é apelidado de "Pode Pá que é Diretoria". "É a linguagem da molecada para mostrar que esse sanduíche é especial", fala Carlos.

Carlos confessa que buscou inspiração na iniciativa de Adelmo Siqueira, que há 12 anos possui lanchonete em Heliópolis, a maior favela paulistana, situada na zona sul da cidade. "Sou um imitador. Fui vender batata frita numa festa lá e gostei do nome. Na favela tem muito dinheiro. O favelado gasta pouco com luz, água e casa. Por isso, tem dinheiro para outras coisas."

A ironia é que o empreendimento do copiador começou quando o pioneiro viu uma notificação obrigá-lo a mudar de nome. Em meados de 2008, seu Adelmo teve de rebatizar sua loja de Minha Favela Lanches. "Manda quem pode, obedece quem tem juízo" foi o ditado que o senhor de 55 anos adotou para não comprar briga com firma dos EUA. Ele sabe que, dentro e fora da favela, há sempre uma hierarquia.

OS DOIS MCFAVELAS

  • Rodrigo Bertolotto/UOL
    Em Heliópolis, lanchonete teve que pintar toldo e mudar de nome
  • Rodrigo Bertolotto/UOL
    Na favela Pantanal, grafite defende opção do restaurante pela periferia
Sua mulher, dona Rose, acredita que a medida foi tomada depois de reportagem em revista que comparava os preços e os sabores do Mec Favela e o do McDonald´s.

"É inveja. Eles olharam que tem gente ganhando dinheiro na favela e foram para a Justiça. É palhaçada proibirem um nome da hora como esse", afirma o cliente Jefferson Sousa, com um x-calabresa na mão.

Seu Adelmo conta que o nome foi a garotada da favela que colocou. E continua se referindo à hamburgueria pelo nome criativo, apesar do "Mec" do toldo ter recebido tinta vermelha, e o da placa estar coberto por fita adesiva. Já o uniforme dos funcionários foi trocado, só ficou o slogan: "O Rey do Hambúrguer 100% Heliópolis."

Na parede da loja, uma foto do senador petista Aloizio Mercadante mostra o visitante famoso abraçado com as funcionárias com o uniforme com o nome antigo. Ao lado, um comunicado de seu Adelmo explica a mudança de nome após medida judicial do McDonald´s.

Já Carlos da favela Pantanal diz que persistirá com o nome e logo similar ao da marca que virou sinônimo da globalização norte-americana. "Continuo até eles virem prá cima", diz, afirmando que já registrou o nome. Já o McDonald´s, em nota à imprensa, afirmou considerar "inapropriado comentar temas que envolvam a esfera jurídica".

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